Slow Fashion- Um novo conceito em moda
Ao centro, a estilista Lena Santana que vende suas criações em uma loja no Rio de Janeiro e também a estabelecimentos do Japão e da Escandinávia
Não são muitos os que já ouviram falar sobre slow fashion. É um conceito de moda ainda pouco conhecido no Brasil, mas que promete conquistar seu espaço na indústria da moda durante os próximos anos. Aproveitando o gancho de movimentos como o slow food, que prevê a criação de pratos ligados à história das cidades e que são elaborados com ingredientes locais, a ideia de slow fashion já é propagada na Europa e estilistas conceituados, como o belga Bruno Pieters, criam coleções inteiras com base nessa ideologia.
Contrária a produção de roupas em massa e de baixa qualidade, a ideia defende a criação de peças atemporais, feitas à mão, com tecidos naturais e duráveis, como algodão, linho e seda, em cores suaves, e defende ainda a produção em baixa escala e em locais que funcionam mais como ateliês do que como indústrias.
Márcia Nogueira, analista de projetos de responsabilidade social do SESI-SP e especializada em moda enfatiza que a maioria das roupas que hoje estão no mercado a preços acessíveis são confeccionadas com poliéster e tecidos plásticos de baixa qualidade. Para ela, ao contrário da Europa, no Brasil ainda estamos no auge da era do fast fashion, sabendo que apenas algumas marcas, como Osklen e Maria Bonita, ousaram, até agora, a lançar peças com o conceito slow fashion. Outra companhia nacional que deu início a sua atuação no mercado é a E-Tex, com vendas de tecidos ecológicos reciclados a confecções e empresas de calçados, relata Márcia.
Humanização da confecção
Ronaldo Fraga é estilista e acredita que o conceito, embora pouco conhecido, tende a ser cada vez mais disseminado no país, especialmente devido aos efeitos da globalização, tendo como consequência a valorização dos produtos locais e genuínos. Ainda na concepção do estilista, na América Latina, a indústria da moda vive um momento de extremos. Onde a produção em larga escala derivada principalmente de países asiáticos, divide espaço com o trabalho de estilistas que privilegiam ideias ligadas ao conceito de slow fashion.
Divulgação
Estilista Ronaldo Fraga trabalhava com 120 costureiras e hoje diz que conta com uma equipe de 30 profissionais
Ronaldo Fraga diz ainda que tem colegas na Argentina, Chile e Uruguai que já incluem nas etiquetas de suas roupas o cognome ‘moda lenta’, e que no Brasil ainda não houve apropriação efetiva do conceito, apesar de alguns estilistas terem iniciado a busca por uma produção mais sustentável. Nesse contexto, ele diz que antes contava com uma estrutura que portava 120 costureiras, trabalhando em um espaço de 200 m². Portanto, agora ele atua com apenas 30 profissionais que trabalham em um galpão de 700 m², ao lado de sua casa. Para o estilista, a qualidade da roupa ´relacionada com a qualidade do trabalho de quem a produz, portanto, a moda slow fashion deve pretender não somente sustentabilidade econômica, mas também a humanização dos processos.
Barato que sai caro
Em referência aos preços da moda sustentável, Márcia, do SESI, justifica que eles têm preços mais elevados, por considerarem o uso de tecidos nobres e naturais e a boa remuneração dos profissionais envolvidos em sua confecção. Todavia, para Lena Santana, a moda sustentável só é mais cara em curto prazo, pois as peças podem durar anos, ao passo que as roupas do mercado tradicional costumam ser perdidas depois de alguns meses de uso.
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Alta-costura x slow fashion
O estilista Ronaldo Fraga ressalta ainda, que o conceito de slow fashion é diferente do conceito de alta-costura, já que este é voltado à classe A e presume a criação de roupas exclusivas, feitas sob encomenda e com materiais de luxo. Para ser classificada como alta-costura, a peça precisa ser 90% feita à mão e totalmente exclusiva, o oposto da moda lenta, que é autoral, porém não é exclusiva, e é também acessível a todos os públicos. A estilista Lena Santana esclarece que a alta-costura e o slow fashion envolvem dois mundos diferentes. Enquanto ambiente de trabalho dos estilistas envolvidos com a moda lenta é mais eclético, o da alta-costura é elitizado.
Moda ecológica x slow fashion
Os conceitos de moda ecológica e slow fashion não se relacionam entre si, embora caminhem juntos, explica Marcela Godoy, co-fundadora e chefa de projetos do Primer Congreso Latinoamericano de Ecodiseño, realizado no Chile no final de outubro, reunindo estilistas e empresas da América Latina e da Europa. Segundo ela, por um lado o conceito de moda sustentável foca na busca de práticas ecológicas à indústria da moda, por outro o slow fashion envolve um estilo de vida voltado ao consumo de produtos locais e artesanais. Ela conclui dizendo que espera a participação de brasileiros na próxima edição, já que não houve a participação de brasileiros na primeira.
http://mulher.uol.com.br/moda/noticias/redacao/2014/10/29/movimento…
A proposta do slow fashion ainda é pouco conhecida e poucas empresas exploram essa possibilidade. Acredito que ainda vai demorar um pouco para ser assimilada, apesar de ser viável e promissora. Tenho um atelier infantil que atua dentro da proposta slow fashion. Não é fácil produzir pouco e com qualidade, já que as pessoas ainda têm uma cultura de comprar roupa descartável barata. Mas para mim, mais vale a consciência limpa do que o lucro. Sei que vendo para um nicho de clientes bem informados e conscientes. Estou muito satisfeita.